quinta-feira, 31 de maio de 2007

Little John e As Irmãs


VÔO
(Para Little John)

– Pai, o que é liberdade? –
o filho pergunta.
Diante do silêncio do genitor,
o menino interpela:
– Um dia iremos à lua de balão.


Marcela Soares nasceu em 29 de fevereiro de 1984, na cidade de Camaçari-BA. Reside há 13 anos em Feira de Santana, onde se formou em Letras Vernáculas pela UEFS. Atualmente, cursa o Mestrado em Literatura e Diversidade Cultural na mesma instituição.



POR VOCÊ
(para João, sempre)

Por você
Resgato tudo.

A alegria, a esperança,
A criança esquecida na infância...
Tudo.

E você, sempre,
A transformar meu mundo.


Daniela Rodrigues (1986), natural de Camaçari-BA, reside em Feira de Santana desde 1994. É estudante de Direito da UEFS e compõe poemas, aos poucos, devido ao grande prazer que essa atividade lhe proporciona.
Foto acima: www.meublog.net

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Singularidades de uma jovem Poeta

PAUSA

Estou sem lugar
vagando
sem memória
pairando sem palavras
tateando

sem telhado
sem vidro
sem padrão
sem busca
sem remorso

em pausa.


OUTROS EUS

Estou inúmeros caquinhos
dispersos, sonolentos, insossos
pedaços de mim,
ou de outros.


ÉRICA AZEVEDO (1983) é natural de Santo Estevão - BA. Estuda Letras Vernáculas na UEFS.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

"Perfil" (7)

CANÇÃO DESESPERADA

Ah, Quintana, viver dia-a-dia cansa, cansa muito.
Cansa porque a gente não sabe nunca se é amado,
ou se tem uma coberta de retalho nos esperando...

Ah, Cecília, como estavas certa!
O amor é mesmo insuficiente.
Tu que vivenciaste tantas perdas,
e em teus mundos costuraste tantas dores,
diante de um grande espelho sem fundo...

Ah, Bandeira, o jeito é tocar um tango argentino.
E rir de tua Antônia, a que parece uma lagarta listada,
E ir mesmo, de fato, direto para Pasárgada.



Ângela Vilma(1967) é poeta, contista e professora. Nasceu em Andaraí-Ba. Aos 22 anos, publicou o seu primeiro livro de poesia, Beira-Vida, ainda morando em Andaraí. Seguindo com Poemas Escritos na Pedra (1994). Participou da coletânea Sete Faces (1996), juntamente com seis poetisas, amigas e colegas da Universidade. No período de 1997 a 1999, foi uma dos coordenadores das publicações literárias do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Feira de Santana. Também participou das coletâneas Concerto lírico a quinze vozes (2004) e Tanta Poesia (2006).

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Com a Palavra....

MÔNICA MENEZES

1) Por que você escreve?

Escrevo porque gosto, tanto quanto gosto de beijar o meu amor, de passear de barco, de olhar a lua e de ler. Escrevo também pois esta é a forma que tenho para inventar-me outras. Uma apenas não me basta, preciso ser muitas e, mesmo quando muitas, estou sempre faltando.


2) O que você gostaria de escrever e por quê?

Gostaria de escrever mais. Porque escrevo pouco. Às vezes, passo dias, meses sem um único verso. É como se a vida me deixasse perplexa, muda. É como se existir simplesmente bastasse. Gostaria, ainda, de ter escrito o poema “Fidelidade” de Li Po, porque o acho simples e belo, como para mim deve ser a literatura.



Mônica Menezes (1975). Poetisa sergipana radicada em Salvador. Tem poemas publicados na revista Entrelivros n. 5 e na coletânea Concerto lírico a quinze vozes(2004).


quinta-feira, 24 de maio de 2007

Da equipe (3)

Terceira margem do rio

O rio ia
e ria
de tantos rios.


Madrigal

O vento viceja o verde
No amarelo que vai.


Domingo

O velho quintal
e meus pais dormindo.



PAULO ANDRÉ nasceu em 1978. Mora em Conceição do Jacuípe. Graduando em Letras Vernáculas. Co-editor do blog.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Um quase-conto de um quase-escritor

RICARDO BELMONTE

Breve consideração:

Certo dia, em tom de brincadeira, ele me entregou uma folha de papel e disse: se eu quisesse ser escritor, seria muito melhor que você. Ele é moreno, eu sou loura. Quando criança, ele gostava de morcegos e rãs, enquanto eu, adolescente, me preocupava com roupas e festas. Ele é o neto preferido de meu avô, eu sou a neta favorita de minha vó. Ele sempre se recusa a ler meus livros, mas eu, felizmente, agi diferente diante daquela sua primeira “obra”. E, no dia de hoje, seu aniversário, publico este seu conto. Ou esta sua primeira e última tentativa de conto, como ele diria. Faço isso por talvez desejar tê-lo como companheiro nesse mundo tão mágico e estranho em que vivo: a literatura. Ou apenas por orgulho mesmo. Porque, afinal de contas, ainda sou sua irmã mais velha.

Renata Belmonte



Pedro


É cedo, mas Pedro prefere o desconforto de levantar ao de se submeter à tortura mental que seus pensamentos costumam lhe oferecer ali, enquanto permanece enrolado nas cobertas. Hora difícil aquela. As atividades mais simples se tornavam extenuantes. E, embora não fosse ele um leitor inveterado, Kafka havia lhe avisado: o primeiro crepúsculo era um martírio. Reverência inócua esta, avaliou segundos depois. Não era preciso rememorar o escritor tcheco para chegar a tal conclusão. Qualquer um poderia ter constatado isso. E, recentemente, um grande amigo tinha lhe dito o mesmo de forma ainda mais atual e verdadeira.

Desta vez, no vaso, não se sentiu melhor, como costumava ocorrer na infância. Sabia que as dezessete horas que se seguiriam não seriam menos desafiadoras. Agora se divertia tentando adivinhar os motivos que levaram Chico e Raul a fazerem músicas tristes com seu nome. Pedro significava 'pedra', leu certa vez no papel informativo que acompanhava sua refeição, numa dessas grandes redes de lanchonete. Lembrou-se que não tinha nada o que comer. Mesmo morando sozinho, sempre esperava que alguém fizesse seu café-da-manhã.

Já na cozinha, permitiu-se fritar ovos para uma omelete. Ora, não era justo, tampouco coerente, um desjejum com pão seco e café ralo, não era desses que gostam de incrementar a tristeza. Além do mais, sua condição financeira não beirava o desespero. Pôs o terno bege como ele e apertou o colarinho - com a mesma falta de habilidade de ontem e anteontem – e, empenhou-se em se indignar com as notícias ruins do jornal do dia, como fazem matinalmente as pessoas nas padarias. No entanto, não obteve êxito em sua tentativa. Seu aparato emocional era raso demais para se incomodar com problemas de ordem maior. Após tal previsível constatação pôs-se a imaginar a presença de um animal doméstico imaginário – quem sabe um cão – e reproduziu onomatopéias imitando a despedida diária de seu bicho adorável.

No último girar da chave, sorriu com a possibilidade de ser invadido por novos desatinos no decorrer do dia que se seguiria. Além do animal, passou também a idealizar a presença de uma namorada naquele apartamento. Nem linda, nem feia, nem estúpida, nem genial, apenas uma namorada. Contudo, sua euforia não fora capaz de durar muito e a imagem dos dois seres vivos que acabara de criar dissiparam-se subitamente como aqueles balões brancos e macios dos desenhos animados. No meio do caminho, já assumindo a condição de homem solitário, ultrajou, silenciosamente, um casal adolescente. Quis odiar um pombo que pousou sobre uma banca de revistas ou qualquer outra coisa estapafúrdia, tal como fazem, ou fingem fazer, os escritores nervosos. Bobagem, disse para si mesmo, não havia motivos para tanto.

Já ao trabalho, percebeu que nos seus devaneios não constavam a presença de filhos. Por um segundo, buscou até compreender o motivo de tal ausência Depois, desistiu. Isso não era um desses mistérios que demandavam longas análises psicológicas, apenas não pensou em filhos e ponto. Bastava para ele ter sua vida preenchida por si mesmo. A ausência de proeminências, intensidades, labirintos, entusiasmos, descobertas, reminiscências, proficiências, bolos de chocolate, 'feliz dia dos funcionários públicos' ou 'esse país vai afundar de vez', lhe era determinante. Ponderou sobre o que, por acaso, lhe fazia falta. Quase nada, disse para si mesmo. Decidiu se sentar na cadeira. E abriu satisfeito um pacote de biscoitos.


RENATA BELMONTE nasceu em 13/03/82, é advogada e autora de Femininamente (2003) e O que não pode ser (2006). É irmã de Ricardo Belmonte.

RICARDO BELMONTE nasceu em 23/05/86 e é estudante de direito. Pedro é o único quase-conto que quase escreveu na vida. É irmão de Renata Belmonte.



segunda-feira, 21 de maio de 2007

"Perfil" (6)

PAZ

Invento a paz: panos brancos nas janelas.
Os burgueses da pensão estranham - canto.
Eu, que nunca cantei.

Atendo no balcão os mortos todos,
procurando achados e perdidos.

E vivo. Eu,
que nunca ousei.

O luto, que cobriu de negro
este quarto, hoje é passado.
Enterrado no quintal dos fundos.

Que as crianças entrem e desarrumem tudo,
rasgando em algazarra meus retratos.


Kátia Borges (1968) é jornalista, poeta e contista. Tem publicado De volta à Caixa de Abelhas (poemas, 2002). Participou das coletâneas Sete cantares de amigos (2003) e Concerto lírico a quinze vozes (2004). Tem poemas e contos publicados na revista Iararana (números 1 e 5). Mais textos da autora no endereço www.mmeka.blogspot.com.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Com a Palavra...

ÂNGELA VILMA

1)Por que você escreve?

Comecei a escrever aos doze anos como uma imposição interior e natural. Algo parecido com beber água, comer, dormir. Posso passar um dia ou dois sem beber água, ou sem comer, ou sem dormir, ou sem escrever, porém mais tempo que isso não dá: não há sobrevivência imaginável. Então, tenho que escrever para continuar vivendo, um pouco como Sherazade que contava histórias para garantir a própria vida.



2)O que você gostaria de escrever e por quê?

A minha resposta pode parecer pretensiosa, mas vou assumi-la. Gostaria de escrever um poema perfeito. Que eu pudesse ler daqui a dez anos e continuar achando-o perfeito. Algo que falasse de amor e não tivesse um só laivo de pieguice; que falasse da morte e não fosse filosófico; que cantasse a vida com leveza, como cantam os poemas cecilianos; que fosse cotidiano e bem humorado como os poemas de Bandeira e Quintana... Enfim, um poema que tivesse a forma perfeita, e que pudesse tocar profundamente – e para sempre – a alma de quem o lesse.

Ângela Vilma(1967) é poeta, contista e professora. Nasceu em Andaraí-Ba. Aos 22 anos, publicou o seu primeiro livro de poesia, Beira-Vida, ainda morando em Andaraí. Seguindo com Poemas Escritos na Pedra (1994). Participou da coletânea Sete Faces (1996), juntamente com seis poetisas, amigas e colegas da Universidade. No período de 1997 a 1999, foi uma dos coordenadores das publicações literárias do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Feira de Santana. Também participou das coletâneas Concerto lírico a quinze vozes (2004) e Tanta Poesia (2006).


quarta-feira, 16 de maio de 2007

"Perfil Especial"

CENA DE RUA

À moda de Manuel Bandeira


dez horas da manhã

um homem arrasta-se na calçada
em frente ao prédio da reitoria
de cócoras

defeca

limpa-se com a mão direita
que esfrega em seguida numa poça d’água

no instante seguinte
o sinal abre para os carros
que fecham a cortina
do humano e breve espetáculo


POEMA EM NOVE GOTAS
Sexta

riacho não corre mais para o rio

rio não bate mais no meio do mar

o mar estranho
estende sua língua salgada
aos pés da cachoeira

e a terra capoeira
estala
esterilizada



MUNDO DESNUDO

a solidão do mundo
recolhida ao peito

as lágrimas do mundo
vertidas no leito

assim o amor se faz chicote

desnudo
perde-se entre lembretes presos à geladeira


Carlos Barbosa, nascido em 17 de Maio de 1958, é escritor, jornalista e advogado. Natural de Ibotirama – BA. Tem publicado Água de Cacimba (poemas, 1998) e A Dama do Velho Chico (romance, 2002). Poemas extraídos de Matalotagem e outros poemas da viagem(poemas, 2006). Mais textos do autor nos endereços miniconto.zip.net e contosempre.zip.net.

Malena

Aí vem Malena

exalando ar de fêmea

por entre as ventanas

que ventam pra mim.

Lá vem maliceira

ungindo a fogueira

na lenha de mim.

Mulher que me avança,

mulher que me acende

me vence, me rende

sou refém de mim.

Malena me doma,

me deita e me chama

na grama e na cama

me toma de mim.

Lá vai a Malena,

mulher tão mulher,

me deixou na cena

de pé tão sem mim.

Me levou no sangue

pra si ou pra gangue

me bebeu na langue:

gozou-se de mim.


Jocenilson Ribeiro (1981) é natural de Jaguaripe – BA. Estudante de Letras Vernáculas da Uefs. Participa de alguns projetos culturais, recitando poemas de autores consagrados e de sua própria autoria.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

"Perfil" (5)

Guardo os meus pés

Ouço o teu conselho
Guardo os meus pés
E os guardo belamente
na minha sapatilha mais querida
Aquela que enlaça
em laço de rubro cetim
os meus tornozelos
e o meu amor
Aquela que os teus olhos
jamais avistaram

Guardo os meus pés
o meu segredo
o meu amor
e continuo caminhando
sob a luz da lua
E continuo...

Hoje
dou-lhe apenas
os meus mais doces beijos
– remotos embora –
o meu silêncio
e estes pés vestidos
como você nunca viu


Mônica Menezes (1975). Poetisa sergipana radicada em Salvador. Tem poemas publicados na revista Entrelivros n. 5 e na coletânea Concerto lírico a quinze vozes(2004).

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Com a Palavra...

MAYRANT GALLO
1) Por que você escreve?

Antes eu escrevia por necessidade de expressão e, de certa forma, para organizar o mundo à minha volta, compreendê-lo. Essa é uma utopia de muitos escritores: Moravia, Faulkner, Graciliano. Hoje, escrevo por diversão, gozo pessoal e, talvez, vaidade. Como só escrevo o que quero, sem pressão alguma de ninguém, não vou adiante se o texto não me fornecer prazer, ainda que seja uma simples crônica ou mesmo um ensaio. Quanto à poesia, é outra história: ainda escrevo (e acho que sempre escreverei) poesia impelido por uma inquietação, algo que está temporariamente dentro de mim e teima em sair, e só o faz mediante palavras, textura sonora, metáforas, ironia. Não é por acaso que se diz que só a poesia confere sentido ao homem e à vida. Ao projetarmos um novo eu a cada poema (o eu do poema não é o do poeta, fique claro isso), nos ampliamos como homens e, assim, nos justificamos perante nós mesmos, embora para nada, já que vamos morrer. Em suma, também escrevo, talvez inconscientemente, para amenizar o fato de que estou no mundo só de passagem. Neste caso, cada texto seria potencialmente uma pegada, um vestígio de nós entregue, por algum tempo, à indiferença do mundo.


2) O que gostaria de escrever e por quê?

Gostaria de escrever um romance policial, porque aprecio muito este gênero, tão mal-visto e tão mal-lido. Todavia, o meu propósito é bem mais complexo do que aparenta (e talvez por isso eu jamais o realize), pois tenho em mente dar vida, precisa e profunda, a uma determinada época e um determinado lugar. O entrecho seria policial, mas na verdade a intenção seria investigar um mundo específico, com sua gente, suas particularidades, seus sonhos, amores, medos e desavenças. Algo assim como A colméia, de Camilo José Cela, ou Santuário, de Faulkner. Além disso, penso que a linguagem deveria, por violação ao gênero e sugestão do assunto, transitar para a poesia, a prosa poética, em tom artístico, o que seria uma difícil empresa, tanto para mim – uma vez que o gênero policial deve forçosamente ser límpido e direto – quanto para o leitor, que, em geral, ao ler um romance de tal ordem, não quer perder tempo atentando para a linguagem, pois não admite se desviar da trama: a investigação de um crime ou o crime em si. Confesso que já tentei escrevê-lo três vezes e fracassei em todas. Meu consolo é que pelo menos um desses textos abortados deverá se transformar num conto. Aos outros dois, vai bem o lixo...


Mayrant Gallo(1962). Contista e poeta. Autor de O inédito de Kafka (CosacNaify, 2003).

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Da equipe (2)

TELEFONEMA
(Um poema para Victor Vhil)

Já não há quem ligue.
Nem telefone há,
Dizem.

Apenas o eco
Do último Alô.


Georgio Silva(1981) é natural de Riachão do Jacuípe. Músico, estuda letras com espanhol na Uefs. É casado e tem pronto o livro "O Menino em Mim". Co-editor do blog.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

"Perfil" (4)

"Lapso"

[1979: Após vinte anos resolveu ligar para a primeira das paixões, a primeira namorada. Conseguiu o número sem querer, de brincadeira, pelo 102. Lembrava o nome completo da garotinha branquíssima que usava franjinhas e isso tornou tudo mais fácil. Escolheu uma noite quente de dezembro, no horário da novela (ela devia gostar de novelas). Não sentiu o coração tão apertado como na infância, mas estava nervoso. Ela atendeu e lembrou-se de tudo: do nome da escola, da professora Arlina, da padaria onde ela, pequena e risonha, já trabalhava; e com detalhes falou de Helinha e de Roni. Sim, ela lembrou-se até com certo saudosismo na voz, de Roni. O maior rival da época. "Mas quem está falando?", ela, curiosíssima. Ele disse o nome e esperou. Seu devaneio durou o bastante para imaginá-la casada, mãe, bonita e madura, cogitou até mesmo um reencontro, quem sabe o beijo que nunca aconteceu fosse possível a partir dali. “Impossível, não conheço ninguém com esse nome. Sinto muito, deve ter sido engano.” Após os clics, foram cuidar de suas vidas. : 1999]


Tom Correia (1969), natural de Salvador – BA, é autor de “Memorial dos Medíocres”(contos, premiado com o prêmio Braskem de literatura em 2002). Colabora regularmente no site www.verbo21.com.br.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Com a Palavra...

ELIESER CESAR



1) Por que você escreve?

Escrevo por uma compulsão interna, vício ou doença contagiante. Por uma necessidade vital neste mundo árido, com ares, cada vez mais, rarefeitos. É como uma comichão ou uma coceira, a gente começa e - pronto! - está logo condenado a viver com a literatura, como uma necessidade quase orgânica. Escrevo também pelo prazer da criação, poder (ilusório, mas como poderíamos suportar a vida sem um pouco de ilusão?) de criar e destruir mundos, pessoas, bichos, animais e plantas, um microcosmo inventado. Também para reinventar, de um modo muito pessoal, o mundo, pois, como dizia a diáfana Cecília, a vida só presta reinventada.



2) O que você gostaria de escrever e por quê?

Gostaria de escrever a continuação de "O Azar do Goleiro", com o personagem já adulto (e não mais um menino de dez anos de idade), desta vez escalado para pegar no gol da Seleção Brasileira na Copa do Mundo. É um projeto antigo e sempre adiado. Também uma história sobre a geração que tinha pouco mais de 20 anos, nos anos 80, tendo como pano de fundo a luta pela redemocratização do país, com a campanha das diretas, a agonia e morte de Tancredo e, as esperanças, mais uma vez malbaratadas.


Elieser Cesar (1960) é natural de Euclides da Cunha – BA. É poeta, ficcionista, jornalista e professor universitário. Tem publicado O Azar do Goleiro (novela, 1989), O escolhido das sombras (contos, 1995), Os Cadernos de Fernando Infante (poemas, 1997) e A Garota do Outdoor (contos, 2006). Integra a antologia A Poesia Baiana no século XX, organizada por Assis Brasil em 1999.