quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

UMA CALCINHA

A calcinha estendida no quintal
de uma brancura insípida
é uma calcinha de menina.

A calcinha de menina no quintal
era o que restava
da menina,
das formas da menina.

PAULO ANDRÉ (1978). Mora em Picado. Co-editor do Blog. Poema originalmente postado no blog Contramão (mgallo.zip.net) em 01/09/2006.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

UM POEMA DE KÁTIA BORGES

O PEQUENO HITLER

A verdade é uma só:
todo mundo traz o menino de Branau
confinado dentro de si
em um bunker imaginário.
E todo sonho que temos,
seja entrar para a academia de artes,
ou possuir a espada de Longino,
é o marido de Eva Braun,
o arquiteto do caos,
que queima em nosso peito.
Pois também ele sonhou
na abadia de Lambach,
servir a Deus e ser bom.
E todo sonho que temos,
seja planejar uma cidade
ou comandar um exército,
é o dono do cão Blondi,
o filho de Klara e Alois,
que ruge dentro de nós.
Pois ele também sonhou
certa tarde no Museu de Hofburg
ter a lâmina da vida nas mãos.
E todo sonho que temos,
seja eternizar-se na memória
ou liderar uma nação,
é o plagiador de Blavatsky,
o falsificador de Nietzsche,
o criador de Treblinka
e de Auschwitz-Birkenau,
que grita dentro de nós.


KÁTIA BORGES (1968) é jornalista, poeta e contista. Tem publicado DE VOLTA À CAIXA DE ABELHAS(poemas, 2002). Participou das coletâneas SETE CANTARES DE AMIGOS (2003) e CONCERTO LÍRICO A QUINZE VOZES (2004). Tem poemas e contos publicados na revista Iararana (números 1 e 5). Mais textos da autora no endereço www.mmeka.blogspot.com.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

UMA BREVE COLETÂNEA...

INSTANTÂNEO

Um ponto qualquer do papel
é mar onde singra o poema.

Pena que nem sempre vê,
se sente ou se escuta o sopro.

Verde vereda
Verdade.

Um convite à folha branca.


TOTÊMICO

P/ Mayrant Gallo

Somos tantos,
e ante o totem atendemos.

Timidamente
tontos,

intimimamente
tempo...


MIRAGEM

Os olhos oblíquos
da cadela:

a sombra do filho
que não veio.


GEORGIO SILVA(1981) é natural de Riachão do Jacuípe. Músico, estuda letras com espanhol na Uefs. É casado e tem pronto o livro "O Menino em Mim". Co-editor do blog.

domingo, 2 de dezembro de 2007

NÃO ME FAÇA LER ESTE POEMA

Não me faça ler este poema
cheio de frases secretas
e de tanta inteligência.

Não me obrigue a ler o verso
que algum filósofo sustenta
para me salvar da inércia.

Seja para mim mero poeta
de olhar o horizonte todo um dia
e me convidar a sentar ao cais.

E, então, faça do seu livro um barco,
do poema velas e mastros
e deixe-me soprar.


MARCUS VINÍCIUS RODRIGUES é escritor, advogado e professor. Publicou PEQUENO INVENTÁRIO DAS AUSÊNCIAS (Fundação Jorge Amado/Brasken 2001). Participou das coletâneas CONCERTO LÍRICO A QUINZE VOZES (Aboio Livre, 2004), OUTROS POEMAS DE QUE FALEI (Banco Capital, 2004), e OUTRAS MORADAS (Banco Capital, 2007). Poema extraído da coletânea TANTA POESIA (Banco Capital, 2006).