Há sempre uma estrada em nossa frente. Seguir? Sumir? Sair? Nem sempre podemos eleger uma destas alternativas para resolver a briga com a vida, este relógio louco que nos persegue. Literatura serve para isso. Ai entra a genialidade de temperar a vida “Entre o alho e Sal”. E é isto que faz Lupeu Lacerda em seu livro de poesia. Uma poesia “Beat” a la Guinsberg, onde dá pra ver este guerreiro Cariri rasgar o mundo sem meias palavras, nem meias verdades. Ainda que existam verdades partidas ao meio, reconstruías. Remendadas. Neste livro não há uma escada para elucidar a inquietude do ser, há apenas uma fresta, uma faísca pronta para explodir, inquietar mais e mais, e além do mais. Lupeu implode o homem interior e reconstrói-se em cada verso com “Um grito novo para pendurar no pescoço do teu silêncio” Pura provocação para pesar no enorme saco dos puristas, das madames de poodles cor de rosa. Lupeu modela seus versos como quem faz um rock, ou como quem rola uma pedra ladeira abaixo. E saia de baixo quem não quiser beijar o chão.
É um livro de poesia? Sim! Um livro de boas amizades também. “os amigos estão loucos.../pegam deus, e embalam para presente/dão de presente a seus amigos. Assim cantando as suas amizades e sua cidade (que é o mundo disfarçado de cariri) e segue cidade adentro, vendo uma (“a cidade de concreto/desmorona/como um castelo de cartas/mal assombrado.” Segue com seus fantasmas, os exteriores e os interiores também, tudo projetado na fumaça de “cigarros acesos na impaciência/ de queimar o tempo.” O tempo é algo que anda pra frente, sempre. Sempre depressa, nos poemas “a noite não se acaba nunca/a noite é uma montanha mágica:/quando se pensa que chegou ao cume,/amanhece.” E do quintal arte da pra ver que “o Cariri/ é uma foto esverdeada/de um velho/e querido filme”. Projetado nas lentes amarelas dos óculos e tatuado num peito de quarenta e poucos janeiros bem contados nas veredas da poesia. Mais não é só de nostalgia que Lupeu tempera sua poesia. Há algumas pauladas de realidade, que lhe condimentam seus versos como estes: “depois que o dia nasce/ no sexto round/a cabeça bate na lona/ da realidade.” E é realmente impossível sair no fim do livro do jeito que entramos.Impossível mesmo é não temperar a leitura deste livro “Entre o Alho e o Sal”. E ler o homem cravado no livro.
Georgio Rios
Sábado, 22 de março de 2008 01:04 da madruga.
3 comentários:
meus queridos "aspeiros"
estou honrado e feliz com a resenha.
um grande texto, e a certeza que o tempêro foi recíproco.
hasta siempre meus manos
e que a feira de santana seja sempre
cheia de letras "entre aspas"
é isso mesmo primo Rios. livros servem pra gente ficar até tarde numa noite de sábado, especulando e vendo o mundo derreter. abçs
Thiago, Paulo e Georgio:
Recebi o livro de poemas de vocês: está perfeito - desde a composição gráfica até o lirismo envolvente e maduro da poesia. Parabéns a vocês três. E obrigada pelo livro.
Beijos,
Ângela Vilma.
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