domingo, 9 de setembro de 2007

POUCAS E BOAS...

BEM, CAROS LEITORES.
A NOSSA REVISTA, EM SUA MISSÃO DE GARIMPAR O QUE DE NOVO HÁ FEITO AQUI, OU POR GENTE DAQUI ESPALHADA PELOS QUATRO CANTOS DO MUNDO, TRÁS MAIS UMA DAS SUAS: A NOVA SÉRIE DE ENTREVISTAS ENTITULADA POUCAS E BOAS, NUMA TENTATIVA CLARA DE POR, PARA VOCÊ LEITOR, O SUMO DO NOSSO TRABALHO. E PARA ABRIR ESTA SÉRIE, RENATA BELMONTE RESPONDE AS POUCAS PERGUNTAS COM BOAS RESPOSTAS. ENFIM, BOA LEITURA PARA TODOS.
EQUIPE "ENTRE ASPAS"
Entrevista-concedida à Georgio Silva


“Entre Aspas”- Muitos dos seus contos tem um ambiente cromático e musical bem presente. Já pensou em adaptar alguma de suas histórias para um roteiro de cinema?

RENATA BELMONTE: Um dos meus grandes sonhos é trabalhar com cinema. Confesso que já pensei muitas vezes em transformar alguns dos meus contos em roteiros. Apenas não o fiz porque não conheço pessoas da área e não sei como poderia viabilizar tal projeto. Mas isso não significa que estou fechada para a idéia. Muito pelo contrário, penso sempre no assunto. Quem sabe nos próximos anos não surge uma boa oportunidade?


"Entre Aspas”- - Como surgiu a idéia do blog?

RENATA BELMONTE: O Vestígios da Senhorita B. é fruto de uma intensa busca pessoal. Nos últimos tempos, estava insatisfeita com minha vida e comecei a sentir necessidade de produzir algo que trouxesse alegria para o meu cotidiano de forma rápida e instantânea. E isto o meu blog tem me proporcionado. Nele, exercito minha escrita, publico contos curtos, democratizo o acesso aos meus textos e relembro biografias de pessoas relevantes. Através do olhar sobre outro, acredito que cresço enquanto ser humano. Ademais, ter este projeto paralelo está me fazendo muito bem. A interação com o leitor e a possibilidade de falar sem ressalvas sobre assuntos que me são caros, são apenas alguns dos pontos positivos do Vestígios.


"Entre Aspas”- - Como encara a literatura e mundo? Simetria? Assimetria ou fusão?

RENATA BELMONTE: Tudo que escrevo reflete a minha constatação de que as regras deste mundo não são coerentes. No meu universo literário, há uma intensa busca por uma lógica de vida diferente da usual. Para meus personagens, não existem limites óbvios entre o real e o imaginário. Afirmações como “isso não existe” ou “isso é impossível” não cabem nos meus contos. Acho que a minha literatura nada mais é do que o meu grito de incompreensão. Faço perguntas a Deus através dos meus personagens. E, enquanto não recebo as suas respostas, permaneço escrevendo. Esta é a forma que encontrei de sobreviver sem perder a delicadeza.

"Entre Aspas”- - Há algo novo de Renata Belmonte prestes a sair em livro?


RENATA BELMONTE: Sim, faço parte da antologia de contos Outras moradas que será lançada em outubro pelo Banco Capital.


"Entre Aspas”- - Leituras, Sem censura, Soterópolis... Como é estar a desfiar sobre você e sua escrita diante das câmeras?


RENATA BELMONTE: As duas experiências foram incríveis. Logo depois dos programas, recebi um monte de e-mails de leitores interessados em adquirir meus livros. Sempre é bom vivenciar novas coisas, conhecer pessoas interessantes, respirar uma atmosfera diferente. Fiquei muito grata pelos convites. Eles foram boas oportunidades de divulgação do meu trabalho.

"Entre Aspas”- - A internet e a literatura em simbiose, como Renata explica suas incursões na teia digital?


RENATA BELMONTE: Meu primeiro conto foi publicado na Internet. Lembro-me perfeitamente da alegria que senti ao receber um e-mail da Leila Miccolis falando sobre este meu trabalho. Colaborei muito com o Blocos on line, dentre outras revistas eletrônicas. A Internet foi o primeiro espaço que me acolheu e me deu legitimidade. Segui em frente porque recebi boas respostas dos meus leitores virtuais. A rede foi muito importante para a construção da minha auto-estima enquanto artista.

"Entre Aspas”- - Como você vê esta galera nova que mergulha na literatura, sobretudo se utilizando de mídias digitais?


RENATA BELMONTE: Eu acho ótima essa renovação. Não gosto muito da idéia de grupos e acho importante que surjam novas e independentes vozes literárias. Apenas penso que as facilidades de publicação na Internet não devem atrapalhar o ofício do escritor. Constantemente, navegando pela rede, leio textos ainda muito imaturos e sem nenhum cuidado formal. Acho que devemos avaliar com cautela o que publicamos. Todo trabalho literário precisa de um tempo de amadurecimento. E nem sempre ele é compatível com a velocidade da rede.


"Entre Aspas”- - Você é leitora voraz. Fale de um(s) livro(s), um(s) filme(s) e um(s) poema(s) que não podem faltar entre suas preciosidades?


RENATA BELMONTE: Desde que li o primeiro parágrafo do livro O amante, me apaixonei. Marguerite Duras foi definitivamente um dos meus melhores encontros literários. Quase todas as noites, antes de dormir, substituo minhas orações pelas palavras dessa grande autora. Já quanto ao filme, escolho Encontros e Desencontros (Lost in Translation). Esta história de amor sem romance é uma das maravilhas do cinema contemporâneo. Gosto tanto que a epígrafe de O que não pode ser é dele. Por último, trago este verso da Hilda Hilst: “Se eu soubesse de nuvens, Como te sei, Não diria o que disse, Nem faria o poema. Olhava apenas.” No meu último aniversário, ganhei alguns livros de poesia dela. E me encantei com todos. O poema citado pertence ao Da Morte. Odes Mínimas que é absolutamente sublime, maravilhoso.



"Entre Aspas”- - O que você perguntaria a RENATA BELMONTE, ou o que você não perguntaria?


RENATA BELMONTE: Eu não me perguntaria o que eu, além de escrever, pretendo fazer na vida. Todos os dias me faço esse questionamento e não encontro nenhuma resposta satisfatória.

3 comentários:

Kátia Borges disse...

Bacana, a entrevista. Vi Renata Belmonte falando pra uma platéia no Instituto de Letras sobre a morte e fiquei impressionada com a sinceridade com que ela expõe seus pontos de vista. Amei!

anjobaldio disse...

Também adorei o filme Encontros e Desencontros. E a Hilda é maravilhosa.

Palatus disse...

Não conheço a Escritora (com e maiúsculo) pessoalmente, mas senti na entrevista a contundência de quem estava falando comigo frente a frente. Sou leitor assíduo do seu blog! E não perco seus contos. Boa entrevista esta, boas respostas. "Faço perguntas a Deus através dos meus personagens. E, enquanto não recebo as suas respostas, permaneço escrevendo".- Ela é simplesmente original, tal como este trecho.
Parabéns aos dirigentes.