sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Poemas...Simulação....Dois Poemas assim...


ALEGRIA

alegria de uma linha, uma palavra, uma letra;
um traço que esgota a mão, fere a face,
esgana a gorja; o desastre a perseguir o
desejo despido da coragem que mostram
os verdadeiramente capazes (é a realidade
pura escalando o mundo que se mostra nos
que escrevem); esses se escolhem e acolhem
o irresistível, embriagados de vida e vodca;
jamais – no entanto – se escreve acompanhado,
leva-se junto mundos, pulsos, vultos de um
perto muito distante, a necessidade
aleatória dos nossos familiarmente estranhos
(alcançam-nos na maior das solidões
deserto povoado da escrita); escreve-se
solitário, mas nunca sozinho; uma turba de
almas nos atravessa, e a força de existir aperta
os estreitos laços da mais incompartilhável das
experiências; é acompanhado de si mesmo
que se descobre o preço irrespirável da alegria


DESTINO IMPURO

o leopardo acelera sua máquina predadora
contra a fome que morde, o antílope
na posição de presa foge veloz para os braços,
o zangão à beira do gozo – à beira da morte,
à beira da abelha-rainha – sabe a alegria,
força, destino. tantos corpos no corpo,
tantos vôos no vôo, tantas vidas, um norte –
mestiço de impulso impuro. na hora
das coisas cruéis, decisivo é ultrapassar
a planta carnívora do medo para flertar com
a alegria do mundo na sua fulgurante desaparição.


Sandro Ornellas (1971) nasceu em Brasília-DF e mora em Salvador-BA. Publicou os livros de poemas SIMULAÇÕES (1998, Salvador, Fundação Casa> de Jorge Amado, Prêmio FCJA/COPENE para autores inéditos) e TRABALHOS DO CORPO (2007, Rio de Janeiro, Letra Capital). Também é professor de literatura na UFBA.

5 comentários:

Muadiê Maria disse...

Belos poemas, Sandro. Muito belos.
Então escrever é ultrapassar a planta carnívora do medo para flertar com a alegria do mundo na sua fulgurante desaparição.

Um beijo,
Martha

Wladimir Cazé disse...

desisto!
desisto da poesia
esse cara é muito bom.

Wladimir Cazé disse...

desisto!
desisto da poesia
esse cara é muito bom

Anônimo disse...

Murilo Mendes redivivo. renovado e calibrado presse mundo novo e confuso. o Sandro é foda. (também tô encanando com minhas poesias Wlad...)

anjobaldio disse...

Belos poemas para enfrentar mais uma bela-noite-ocada.