sábado, 10 de maio de 2008

TRÊS MINI-CONTOS DE WILSON GORJ

FALSOS

Do Paraguai trouxe um uísque, um relógio e uma loira.
O uísque revelou-se intragável. O relógio, quando não adiantava, atrasava. E os cabelos da loira, aos poucos, escureceram.
Um dia, ela prestou exame na USP. Passou em primeiro lugar.


CONFISSURA


Todas as tardes, ela ia à igreja se confessar.
Quando esgotou seu repertório de faltas e delitos, fez ao padre uma confissão um tanto quanto indecorosa.
A partir daí, na sacristia, seu estoque de pecados era constantemente renovado.


REFLEXO TARDIO

Tendo dobrado a esquina, o caixeiro-viajante topou com uma mulher, cuja reação não pode compreender. Ora, ela simplesmente saiu correndo, cheia de espanto.
Verdade que não era bonito. Mas, por mais feio que fosse, sua feiúra não era tanta a ponto de espantar uma mulher como se fosse uma barata.
“Talvez eu esteja com remelas nos olhos”, ponderava Gregor Samsa, enquanto vasculhava a sua maleta à procura de um espelho.



WILSON GORJ nasceu em 1977, em Aparecida, SP. Mais de e sobre WG em: omuroeoutraspgs.blogspot.com

3 comentários:

Anônimo disse...

Wilson Gorj é um craque do miniconto. O último é, sem dúvida, uma lição (permanente) de como usar as influências. Congratulações!

Analistas do Discurso disse...

Ê puta saudade desse espaço! Só fico com raiva desse blog por um motivo: por me fazer pensar em algo que me alegra e me corrói simultaneamenwte - a vida!

Não volto mais aqui, até que a vontade não me bata à porta. E onde está a porta?
Abraço à família "entreaspeanas".xiiiii
Nilson

Rynaldo Papoy disse...

Da hora, Wilson, você é sempre foda.