quarta-feira, 17 de outubro de 2007

PORTEIRA

"Meu canto, lugar algum onde posso encimesmar.Aqui donde olho indeciso pro lado onde quero como quem olha ao longe um carro-de-boi, em sua eterna cantiga".

Eis que a porteira se abre...

Assim,meio sem tino sigo pela vereda.Um som longínquo se desprende da tarde.Uma revoada de pássaros ruma para o sul, sem destino certo.Sob a mira de caçadores, ocultos por entre os arbustos, seguem.

A aquarela cinza e laranja compõe a tarde que se desfaz da luz .Uma luz que grita espessos raios por entre o emaranhado de nuvens acinzentadas. Posso ver por entre o exército de capim.Dançando sob o comando do vento.A tarde desce...

Os primeiros golfos negros da noite se desdobram, e a casa e seu candeeiro, emitindo o sinal de que estou chegando. Porteira aberta, o cheiro do café surgindo da cozinha e invadindo impunemente minhas narinas, tão acostumadas ao cheiro do gado e da lida de terra.

Sempre amei esta lida, sina de todos os que trazem nas veias o sangue aquecido pelo sol destas paragens.E me aquieto ,no silêncio da noite a escutar os grilos fazendo sua festa de escuro e som...



Georgio Silva.Pequena prosa poetica, ou algo assim.Há algum tempo haviamos cogitado a possibilidade de publica-lo no "Entre Aspas".Resisti por muito tempo mesmo.Hoje este texto amanheceu em minha mente, com o nascer do sol. Algumas cabras tocando cincerros na frente da casa...Postei.Espero que gostem.

2 comentários:

anjobaldio disse...

Gostei muito desta imagem: "os primeiros golfos negros da noite". Lembrou minha infância na roça de meu avô. E naquele tempo era cadeeiro mesmo. Belo poema.

Anônimo disse...

"Sempre amei esta lida, sina de todos os que trazem nas veias o sangue aquecido pelo sol destas paragens.E me aquieto ,no silêncio da noite a escutar os grilos fazendo sua festa de escuro e som...". até prum urbanão feito eu, deu pra sentir o lugar. prosa leve, e boa...vc já leu o Carmina do Dênisson Padilha?abçs